Pessoas como nós. Eles, os bichos.

MARRONZINHO

Talvez você desconheça este animal. Ele, não desconhece você. Seja você quem for. Como todos os bichos.

O animal acima acompanhou seu tutor, um morador de rua, dentro da ambulância quando este passou mal. Os socorristas tentaram afastá-lo, mas ele lutou bravamente e acompanhou de dentro da viatura, o atendimento ao seu amigo. Não deu trégua. No hospital, ficou defronte a emergência por dias. Obrigou até mesmo a entidade hospitalar justificar sua estada ali, na espera da melhora de seu companheiro. Parabéns ao hospital. Parabéns aos socorristas. Demonstraram elevação de caráter e a simples mas, tão distante, sensibilidade. Aconteceu em Limeira/SP. Em fevereiro de 2017. Os atores desta história hoje se recuperam. Espero que para viverem felizes. O tutor de Marronzinho reencontrou a família. O cão foi o elo da corrente quebrada pelo desespero. Hoje ele soldou a célula de seu tutor. Com certeza, Marronzinho é ser de luz.

Em 23 de dezembro do ano passado, li com carinho e muita esperança, a notícia veiculada pelo sítio da internet pertencente a Associação dos Registradores Imobiliários de São Paulo - ARISP ( www.iregistradores.org.br ), que, em Santa Catarina, o ofício de Registro Civil de Camboriú, fazia a primeira Certidão de um animal de estimação. A escolhida foi Betina, uma boxer guardiã do cartório. A responsável pelo ato foi a Oficial Substituta Maria H. Bodnar, de 66 anos de vida e uma imensidão de sentimento. Este ato permite assim que nós, zeladores animais, tutores, guardadores de bichos, possamos registrar os amigos e deles nos tornar responsáveis. Deles e por eles.

A discussão dentro do Direito é muito grande e não possuo o conhecimento técnico. Só sei que no Direito Civil somos pessoas. Pessoas físicas e jurídicas. Dentro das físicas, temos os incapazes. Os tutelados. E pessoa é todo aquele ser que tem capacidade de agir, influir, portador de direito de vida, existência e a obrigação de saber viver em comunidade. Pessoa portanto, tem direitos e obrigações. Incapazes não. Incapazes tem direitos, mas, por diversos fatores, não conseguem exercer obrigações. Os seres humanos os chamam de especiais. Prefiro este termo. Especiais. Como os bichos. Eles também são especiais e incapazes.

Tomamos o lugar deles. Mudamos seu comportamento. Os modificamos ao nosso bel prazer e mesmo utilidade. Invadimos, depredamos. Não seria justo ao menos entendê-los por pessoas? A França já entende assim. 

Aqui as autoridades permanecem na obscuridade. Roberto Trípoli e Goulart, então vereadores da cidade de São Paulo, em fins do mês de maio de 2013, aprovaram uma lei municipal que postulava pelo direito da pessoa em ver enterrada a si, no mesmo local, seu animal companheiro de existência. Projeto de lei 305/2013. Para ser lei, dependia de veto ou sanção do prefeito Fernando Haddad.  Este senhor, postergou a apreciação o quanto pode. E, no apagar das luzes daquele ano, dia 17/12/2013, vetou o projeto.

Sob o manto da reclamação da Igreja Católica, do custo imenso de adaptação dos locais públicos, este senhor, fechando os olhos ao coração, agindo pelo interesse do Sr. Mercado, sepultou o direito do cidadão paulistano em fazer seu descanso com um ser que sempre lhe foi leal. Sim, a lealdade, a ausência de inveja, pauta aos bichos. Ninguém pode negar. Se São Paulo/SP  conseguisse com certeza, os municípios brasileiros seguiriam. E nós teríamos a apreciação do direito do bicho ser como nós, pessoas.

Vamos continuar tentando e lutando. Ainda me resta a persistência. A certeza. O exemplo de nobreza exacerbada, espelhado por Marronzinho. Ele quer viver com seu amigo. Sempre e em qualquer plano. Porquê insistimos em querer dobrar e moldar a natureza? Porque não sabemos ser mais sorriso e menos rugas? Mais risadas e abraços que lágrimas? Abandone a violência meu amigo. Seja mais. Seja, MARRONZINHO.

Foto  retirada do ítio da internet, G1. Vídeo da rede televisiva EPTV.










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